terça-feira, 8 de junho de 2010

REALITYS SHOWS: LABORATÓRIO DE FUTILIDADE


A televisão brasileira há alguns anos, deu inicio a uma nova modalidade de programas no horário nobre. São os chamados Realitys Shows ou show da vida real. No começo de 2001 estreou o primeiro programa na TV. Trata-se da “Casa dos Artistas” exibida pelo SBT, onde vários artistas foram selecionados para conviver numa casa durante um determinado tempo. Em seguida a Rede Globo lançou os programas: No Limite, Fama e o mais famoso de todos o Big Brother Brasil, que já está na sua sétima edição. Este por sua vez, reúne pessoas anônimas de várias partes do país para passarem em média 90 dias morando numa casa disputando um prêmio de um milhão e meio de reais. Além desses, outros canais como a Rede Bandeirantes também exibiram programas com as mesmas características.
Esses programas bateram – porque muitos foram instintos – e ainda batem recordes de audiência. Principalmente, o Big Brother Brasil da Rede Globo. Todas as noites milhões de pessoas “ficam ligadas” na frente da TV para assistirem os brothers se exibindo na telinha; mostrando seus corpos sarados; fofocando uns dos outros; armando planos para eliminar os concorrentes, enfim, fazendo de tudo para ganhar um milhão e meio de reais e tornar-se uma celebridade instantânea, mitos que a mídia sabe construir como ninguém da noite pro dia.
Na terça-feira dia do chamado “paredão” onde um brother é eliminado pelo público através de votação via telefone e via internet, os números de votos, são altíssimos, chegando a cifras de 29 milhões no total. Lembrando que cada voto tem um custo, seja ele ligação ou voto de internet. Fazendo os cálculos: uma ligação para a plataforma 0300 a R$ 0,30 teremos um total de R$ 8.700.000,00, é isso mesmo. Se a Rede Globo tiver um contrato “fifty to fifty” com operadora do 0300, ela embolsa R$ 4.350.000,00 somente em um único paredão (PINTO, 2007).
Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastardas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro as contas da operadora. Porém o “X” da questão não é esse. É saber que se paga para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora com a formação e o conhecimento de quem desfruta; mostra apenas a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, conseqüentemente, daqueles que só bebem nessa fonte.
Certa está à rede Globo. O programa BBB dura cerca de três meses, ou seja, o sábio público tem ainda varias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural, para quem gasta mais de oito milhões numa só noite. Coisa de país rico como o nosso claro!
Programas como o BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em terras tupiniquins. Um país onde o cidadão vota para eliminar um bobão – ou uma bobona – qualquer, não lembra em quem votou na última eleição. Depois, não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc. Quem os colocou lá? Resposta: o mesmo eleitor do BBB.
Contudo, entendemos que este tipo de programa é uma aberração da televisão brasileira. Primeiro, porque são programas não educativos que não produzem nenhum conhecimento às pessoas, ou seja, são verdadeiros “laboratórios de futilidades”; segundo, que o horário nobre da televisão deveria ser usado para educar as pessoas, passando conhecimento e um maior nível de criticidade aos brasileiros; por último, são programas nada criativos, até porque muitos são réplicas de programas americanos e britânicos que já foram exibidos por lá e em seguida extintos pelos baixos índices de audiências.
Infelizmente a televisão brasileira há tempos não tem projetos de cultura, nem programas educativos. Os poucos que existem, são exibidos quase todos na madrugada, justamente para que as pessoas não tenham acesso a essas informações. Isso demonstra claramente a falta de compromisso da TV brasileira com a sociedade. E esse descompromisso acontece justamente por culpa da própria sociedade. Logo, no Brasil a maioria das pessoas não gostam muito de ler, não se preocupam com informações, no entanto, são os programas de futilidade que o atraem, portanto, os que dão maior IBOPE.
Lamentamos profundamente esse tipo de concepção da sociedade. Pois, entendemos que é necessário boicotar a audiência desse tipo de programa. Logo, os telespectadores acabam caindo como presas fáceis em frente à “telinha”, servindo apenas de cobaias para fortalecer a marca dos anunciantes, que são muitos. Enquanto as pessoas perdem tempo, perdem sono, gastam energia em frente à TV para assistir o Big Brother, por exemplo, empresas, juntamente com a Globo, faturam milhões à custa da audiência das pessoas que muitos, inocentemente acabam sendo conduzidas a esse processo alienante.
No entanto, entendemos que num país onde o desemprego bate recordes e onde o número de espaços educativos é bastante reduzidos, programas dessa natureza são bastante atrativos para o entretenimento daqueles que vivem na ociosidade. Porém, é necessário reverter esse quadro, pois, um povo sem cultura, sem conhecimento, sem oportunidades é muito fácil ser conduzido e usado como massa de manobra por aqueles que detêm o poder. Seja ele político, econômico ou midiático.


IVANILDO ALEXANDRE OLIVEIRA
HISTORIADOR E PROFESSOR DA REDE PUBLICA DE JOÃO LISBOA-MA
EMAIL: ivanlexx5@hotmail.com